Em três dias de manifestações artísticas, periferia de Salvador fura bolhas e conta sua história no centro da cidade
Durante três dias, a sétima edição do Movimento Boca de Brasa, evento cultural gratuito da cidade de Salvador e que tem como objetivo enaltecer a potência da periferia, levou todos os seus polos criativos para ocupar o Quarteirão das Artes da Fundação Gregório de Mattos, no centro da cidade.
Com mais de 50 horas de programação, o Boca de Brasa tornou-se um verdadeiro conjunto de expressões culturais, promovendo diálogos enriquecedores e oportunidades de negócios para os participantes. Mais de 30 apresentações artísticas, incluindo shows de Quabales e Favellê, ÀTTOOXXÁ e AFROCIDADE, ecoaram pelas ruas, imbuindo o ambiente com energia e vibração. A Feira Elabore, por sua vez, foi um verdadeiro tesouro de criatividade, reunindo empreendedores locais e seus produtos, desde acessórios e moda até gastronomia, ampliando as oportunidades de mercado e fortalecendo a economia criativa da região.
Cerca de 500 profissionais se uniram, criando arte, entretenimento e oportunidades tangíveis. Com mais de 160 postos de trabalho diretos criados e um público estimado em 8000 pessoas impactadas, o Movimento Boca de Brasa demonstra seu impacto concreto na comunidade.
Lais Almeida, produtora cultural, acrescenta que hoje, no Movimento Boca de Brasa 2024, retorna como produtora do festival da Mil Produções. “Assim como a minha história, muitos outros jovens são transformados pelo Movimento Boca de Brasa, pois ele contribui para potencializar os artistas das periferias e pode ajudar significativamente para o crescimento desses artistas que, por muitas vezes, são invisibilizados”.
Movimento Boca de Brasa - Fotos: Lane Silva
As periferias do Brasil são reconhecidas como importantes centros de criatividade e diversidade cultural, onde uma intensa atividade cultural parece ultrapassar as barreiras econômicas e sociais. Nestes locais, há uma abundância de expressões artísticas, manifestações culturais e tradições ancestrais.
De acordo com a pesquisa do Data Favela 2023, se as favelas brasileiras formassem um estado, seria o terceiro maior do Brasil em população. O número de favelas dobrou na última década, totalizando 13.151 no país. A renda movimentada pela população dessas comunidades também aumentou, ultrapassando os R$ 200 bilhões. Atualmente, são estimados 5,8 milhões de domicílios em favelas com 17,9 milhões de moradores.
Esses números evidenciam a importância das favelas no cenário nacional. Com um crescimento exponencial, elas representam uma força cultural e econômica significativa, desafiando sua tradicional marginalização na sociedade.
Nesse contexto dinâmico, o Movimento Boca de Brasa encontra suas raízes em Salvador, reconhecendo e celebrando o potencial das periferias como agentes de mudança na sociedade brasileira. O que começou como um festival agora se expande para um movimento abrangente, promovendo oportunidades e conexões em diversas direções.
Mais do que apenas trazer artistas para o palco, o Boca de Brasa busca abrir portas para empreendedores, líderes comunitários e jovens das periferias, oferecendo trilhas formativas que capacitam esses agentes a moldar ativamente o futuro de suas comunidades.
"Eu diria que a periferia de Salvador é um lugar muito potente com as mais diversas linguagens artísticas, com uma população extremamente criativa e organizada", comenta Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos.
Os espaços físicos do Boca de Brasa não são apenas locais de entretenimento, mas sim epicentros de atividades culturais que promovem o desenvolvimento humano, social e econômico das regiões onde estão inseridos.
O Movimento Boca de Brasa é um projeto impactante na vida dos jovens e adolescentes da periferia, possibilitando o aprimoramento do conhecimento artístico e a visibilidade para os artistas locais.
Para manter essa dinâmica, é crucial que o Brasil promova e apoie projetos sociais enraizados nas realidades e necessidades das periferias.
"O projeto Boca de Brasa tem como objetivo central chamar a atenção para essa questão, trazendo iniciativas periféricas para o centro do debate e para o radar da mídia, das empresas, do governo, da prefeitura e do Estado", destaca Fernando Guerreiro.
O Movimento Boca de Brasa transcende seu propósito inicial para se tornar um agente de mudanças sociais e econômicas em larga escala, impulsionando o desenvolvimento das comunidades periféricas.
"A ideia é fazer com que se transforme em políticas públicas", conclui Fernando Guerreiro.
A Prefeitura de Salvador, em parceria com diversos órgãos municipais e a sociedade civil, organiza o Movimento Boca de Brasa, demonstrando o compromisso conjunto em fortalecer a identidade cultural das periferias e impulsionar seu desenvolvimento.
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