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Foto do escritorMaysa França

Manifestação cultural dos paredões de Salvador continua sendo uma prática proibida

Atualizado: 17 de nov. de 2022


Fotografia tirada por Maysa França


As festas "Paredão", que acontecem nos bairros periféricos de Salvador, foram proibidas em 2021, pelo governador Rui Costa, após a morte de seis pessoas em um tiroteio durante o evento no bairro do Uruguai. As festas ao som de mala, como os organizadores preferem chamar, pois o nome ‘’paredão’’ já é muito discriminado, tornaram-se um costume dentro das comunidades, não só nas regiões metropolitanas, mas em todo estado.


Ronnie Severino, 34, é produtor de eventos e considera que o fato da festa ser marginalizada pela sociedade dá apoio aos meliantes que se apropriam desse tipo de evento para vandalizar e cometer crimes. “Na verdade, o som de mala ele é marginalizado, não podemos tocar em nenhum ambiente, certo? Porém, é a cultura dessa juventude que eles têm acesso. Porque eles não têm teatro, cinema, não tem nenhuma arte sendo desenvolvida para esse público. Hoje a opção que se tem para esses jovens, muitos, se não à maioria que tem menos recursos, é justamente o som de mala, é ali que eles se divertem e se encontram com os amigos. Por ser marginalizado, muitas vezes marginais se aproveitam disso e abraçam essa causa”, afirmou.

A população dos bairros periféricos de Salvador se queixa da falta de um espaço adequado para a prática de tal modalidade sonora, além de uma regulamentação das festas para que aconteçam de forma legal dentro de normas cabíveis. De forma que não incomode os moradores, mas que também não deixem de acontecer, visto os benefícios gerados para a própria comunidade, como o impulsionamento da economia local.


Daniel Victor, 24, vendedor ambulante e morador do bairro de Fazenda Coutos 3, relatou como as festas ‘Paredão’ o ajudam financeiramente: “Eu costumava vender cerveja no carnaval junto com minha mãe, dali a gente tirava bastante lucro apesar de ser bem precário as condições de trabalho. Porém temos aí 2 anos sem carnaval, sem poder vender né, e quando percebemos os paredões crescendo, todo final de semana acontecendo e ainda pertinho de casa, começamos a colocar nossa caixa de isopor próximo e tirar nossa renda, isso nos ajudou muito”.

Fotografia tirada por Maysa França


Ele também reclama da deficiência de um aparato por parte do governo, de uma democratização no entretenimento para as pessoas de baixa renda, afinal “o paredão é uma festa organizada pelas próprias pessoas das comunidades, na qual basicamente é música, lazer e diversão, onde toca a música que a favela gosta. Dentro do meu bairro lazer e entretenimento patrocinado pelo governo é muito difícil, acontece mais em época de eleição. Tirando o campo de futebol para os “pivetes” bater o baba, não tem nada”.


Assim como Daniel, muitas pessoas têm a oportunidade de tirar o sustento como os donos de som de mala ou paredões. Quando acontece em locais fechados como o Arena Mega Music, casa de show localizada em Paripe, que fornece o espaço para os chamados “Encontro de Paredões”, movimenta economicamente na contratação de seguranças, pessoas para limpeza do local, além de vendedores de bebidas e alimentos que são acionados pelos produtores de evento para trabalhar durante essas festas.

Vagner Ferreira, Jornalista e pesquisador do universo das festas de rua, o paredão de som vai além de caixas empilhadas, é uma manifestação cultural, um movimento da periferia para a periferia que traz toda essa resistência e luta estrutural. Um espaço de lazer em seu local base, com representatividade, expressando suas características e costumes, dançando e cantando da sua forma. Por outro lado, ele também ressalta as denúncias e irregularidades dessa prática.

“Não podemos deixar de citar a irregularidade que acontece, tem muita denúncia, muita crítica justamente por isso, eu acredito que precisa ter um lugar adequado uma hora adequada para acontecer essas festas. Precisa ter uma regularização, um dos principais motivos de denúncia é a questão do som muito alto, falta de respeito, então acredito que é preciso investir em um espaço com uma boa acústica para que todos possam, quem curte e quem não curte, estar bem naquele ambiente”, argumentou Vagner.


Vagner Ferreira/Reprodução acervo pessoal


Os paredões são hoje uma realidade que muitas autoridades estão querendo “jogar para debaixo do tapete”. Cultura consolidada das periferias, quando o estado não dá recursos, essas pessoas se adaptam. O mais adequado é a criação de um espaço específico, pois não se deve interromper, mas regulamentar.



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