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Copa no Catar: O mundo não pode se calar

Atualizado: 20 de abr. de 2023

Foto: Clive Rose | Getty Images


O ano de 2022 está terminando e o mundo está com os olhos voltados para o Catar. Com o país sediando a Copa do Mundo da FIFA, várias nações e diversas culturas têm se encontrado e celebrado os gols de suas seleções. Mas nem tudo é motivo de festa e muito menos permitido no país localizado no Oriente Médio. O Catar tem sido alvo de diversas polêmicas desde que foi anunciado como anfitrião da principal competição do futebol mundial.


Um dos pontos criticados é justamente a discriminação contra os LGBTQIAP+. Embora mais de 70 países tenham adotado políticas voltadas para a população LGBTQIAP+ nos últimos anos, o Catar segue na contramão, com leis rígidas que proíbem qualquer forma de afeto entre pessoas do mesmo sexo. O Código Penal vigente no país condena qualquer ato de homoafetividade, seja entre homens ou mulheres e tem como pena máxima o apedrejamento.


Algo incompreensível para a escolha do Catar como país-sede da Copa é justamente o fato de contrariar o artigo 3 do Estatuto da FIFA, que preza pela preservação dos direitos humanos. Desde o anúncio, a organização evita falar sobre o assunto.


Gianni Infantino, presidente da FIFA, tentou fazer um discurso de aproximação das minorias as vésperas da abertura dos jogos, mas a sua fala não foi suficiente para mudar a realidade no país. “Hoje estou com sentimentos muito fortes. Hoje me sinto catari. Hoje me sinto árabe. Hoje me sinto africano. Hoje me sinto gay. Hoje me sinto deficiente. Hoje me sinto como um trabalhador imigrante”, disse em Doha, capital do Catar.


Legislação no Catar


A base da legislação vigente no Catar está na sharia – um sistema legal que mescla o direito civil e islâmico. A lei catari prevê uma condenação absurda no país para quem for flagrado em atos de afeto entre pessoas do mesmo sexo, que pode ser de oito anos de reclusão até a pena de morte.


A pena é variável e vai de acordo com a idade dos envolvidos. A lei também condena manifestações em favor da comunidade LGBTQIAP+. Por conta disso, os jogadores das seleções foram proibidos pela FIFA de realizar qualquer tipo de manifestação em seus uniformes. O jogador Harry Kane, capitão da seleção inglesa, pretendia usar a braçadeira com as cores da bandeira do arco-íris, principal símbolo LGBTQIAP+. A delegação desembarcou no Catar em um avião chamado Rainbow e tinha as cores do arco-íris em sua logomarca.


A forma como o Catar segue sua lei à risca ultrapassa as barreiras do desrespeito a símbolos que não tem ligação com a comunidade LGBTQIAP+. No dia 22 de novembro, o jornalista brasileiro Victor Pereira teve a bandeira do Pernambuco confiscada pela polícia local em razão do arco-íris, principal emblema do estado. Victor utilizou seu Twitter para denunciar a situação. “Eu fui atacado por alguns integrantes do Catar e também por policiais. Eles vieram pra cima achando que era uma bandeira LGBT+, quando, na verdade, é apenas uma bandeira de Pernambuco”. Após fazer as publicações, o celular do jornalista também foi apreendido.


Protestos


Desde que foi anunciado como sede da Copa do Mundo da FIFA, o Catar foi alvo de diversos protestos, inclusive nos meses que antecederam os jogos. As cantoras Dua Lipa e Shakira, por exemplo, recusaram o convite para se apresentarem na abertura dos jogos. A Pantone, principal marca de cores do mundo, decidiu protestar contra as leis discriminatórias do país recriando a bandeira do movimento LGBTQIAP+ com a ausência das cores, mantendo apenas a numeração representativa de acordo com o sistema utilizado pela empresa.


Durante os jogos, um dos protestos que chamou a atenção da comunidade mundial foi do italiano Mario Ferri, conhecido como Il Falco. O torcedor invadiu o campo durante a partida entre Portugal e Uruguai vestindo uma camisa azul com as frases “Salve a Ucrânia” na frente e “Respeito pelas mulheres iranianas” no verso, além de portar a bandeira da comunidade LGBTQIAP+. O jogo ficou paralisado por aproximadamente um minuto.


Mesmo proibidas pela FIFA, algumas seleções também protestaram ao entrar em campo. Em seu primeiro jogo, a Seleção da Alemanha posou para a foto cobrindo a boca, em sinal de protesto contra a decisão da organização em proibir a utilização da braçadeira da campanha “One Love”, da seleção inglesa. Além da Inglaterra, outras oito seleções usariam o item no braço de seus respectivos capitães.


As seleções da Dinamarca, Holanda e Irã também realizaram protestos antes de seus jogos. Tais protestos foram bem recebidos pela comunidade internacional.


A decisão da FIFA em calar os jogadores é totalmente contrária ao ritmo que o mundo segue atualmente. Escolher um país que vive um retrocesso social, com suas leis que discriminam homossexualidade e que não respeita as mulheres mostra que a organização precisa urgentemente rever seus critérios de elegibilidade de um país-sede do evento mais importante do esporte mundial. Uma instituição que preza pela defesa dos direitos humanos não deveria se curvar a leis antiquadas.


Ironicamente, a mesma FIFA que realiza a Copa do Mundo no Catar vetou a participação da Rússia no evento, desclassificando a seleção russa após o início da guerra na Ucrânia.


Por outro lado, o Catar precisa respeitar o direito das pessoas que vivem além das suas fronteiras. Afinal, a Copa do Mundo é o encontro da celebração, da diversidade entre os povos e suas culturas, sejam brancos ou negros, héteros ou homossexuais, ocidentais ou orientais. Aliás, uma das justificativas apresentadas pelo Catar ainda na época da sua candidatura para sediar a Copa foi justamente a união entre os países orientais e ocidentais no Oriente Médio, algo que, infelizmente, ficou bonito nas falas, mas vergonhoso e opressor na prática.

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