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Foto do escritorLeonardo Campos

Comportamento Organizacional em Escritores da Liberdade

No quinto episódio da série "Comportamento Organizacional em Perspectiva", abordamos liderança e educação em "Escritores da Liberdade"

Foto: Reprodução / Arte 071 News

A relação entre professor e estudantes no contexto escolar é o mote de muitos filmes que flertam com a perspectiva dramática. Escritores da Liberdade, dirigido e escrito por Richard LaGravenese, tendo como base o livro de Erin Gruwell, é uma destas produções semelhantes ao que podemos contemplar em O Sorriso de Monalisa, O Preço de Um Desafio, Mentes Perigosas, Sociedade dos Poetas Mortos, dentre outros: docentes que buscam inspirar turmas desacreditadas pelo sistema educacional, numa demonstração dos caminhos que uma boa estrutura neste campo pode proporcionar para aqueles que precisam exercer os direitos e deveres cidadãos em seus respectivos cotidianos. Lançado em 2007, ao longo de seus 122 minutos, observamos diversas questões cruciais sobre o quão desigual é a nossa sociedade, sim, algo óbvio e senso comum, mas que precisa ser discutido.


Narrativa ideal para debates em semanas pedagógicas, com incentivos para docentes em suas práticas cotidianas em sala de aula, o filme também possui um bom direcionamento para discussões no âmbito da administração, pois traz noções de liderança e motivação, algo importante nas dinâmicas do comportamento organizacional, planejamento de carreiras, gestão de projetos tradicionais ou ágeis, dentre outras possibilidades. Na trama, acompanhamos a trajetória de Erin Gruwell, personagem interpretada com carisma por Hilary Swank, professora que assume uma turma indesejada da escola onde começa a atuar. Na sala 203, temos todos aqueles que a elite branca suprema estadunidense abomina. Jovens periféricos: afro-americanos, imigrantes, pessoas com passados de abuso de todo tipo e descaso.


Por uma questão política, a instituição precisou inserir o grupo para atender ao projeto da secretaria educacional da região, mas os presentes não são bem recepcionados, principalmente pela gestão e demais professores da escola. Sem afeto ou recepção, estas pessoas brutalizadas resistem constantemente, alijados da crença de que possam se tornar melhores com o incentivo diante de suas jornadas complexas de opressão social. É quando entra a professora Erin. Inicialmente, iludida com seus planos de aula tradicionais e postura mais conservadora, a docente enfrenta enormes desafios. Como inspirar com a poesia homérica numa aula de literatura e filosofia se na sala onde se encontra, estudantes estão mais preocupados em conseguir sobreviver por mais um dia em suas existências violentas?


O jeito é compreender as estratégias de liderança e motivar, mesmo que o seu entorno seja bastante desmotivador para si mesma: na dimensão domiciliar, o esposo Scott Casey (Patrick Dempsey) inicialmente parece interessado em ver a progressão da companheira, mas com o tempo a relação de ambos se desgasta, pois ao passo que Erin começa a dar a virada no jogo com a proposta desafiadora inicial, Casey se sente preterido. Pequenas brigas e discussões levam o casal ao inevitável processo de separação, pois conforme o comportamento do marido, o desejável era que ela trabalhasse, mas estivesse mais disponível ao menos para por o jantar e cuidar de coisas do tipo na esfera de um casamento.


Se em casa as coisas funcionam desta maneira, pior no ambiente de trabalho. A sua gestora, Margaret Campbell (Imelda Stauton), mina as expectativas de Erin desde o primeiro encontro. Não concede os livros da biblioteca para que a docente faça projetos de leitura, se invoca quando a profissional começa a demonstrar sucesso com a turma desenganada e assume, num arquétipo de vilã necessário para uma narrativa cinematográfica de entretenimento, a postura de alguém que pretende derrubar a heroína em sua caminhada pelo sucesso pedagógico. As coisas ficam ainda piores depois que o projeto de Erin começa a ganhar visibilidade midiática. Jornais cobrem as ações da professora e exaltam a sua resiliência e sororidade com os estudantes, situação que causa desconforto nos demais membros da escola.


Depois de adentrar na sala de aula e entender a realidade dos habitantes daquele espaço, Gruwell percebe que para conquistar os alunos, será preciso falar a língua deles, compreender a sua cultura, em especial, por ela ser vista inicialmente como uma ameaça. Branca, Erin é representante étnica da elite suprema que coage há eras pessoas que integram os grupos presentes naquele espaço estudantil. É algo de bastante complexidade. Ao criar os diários onde os jovens podem escrever os seus sonhos, sentimentos e reflexões, ela inicia a sua virada de chave. Conquista a todos e coloca em prática o projeto de leitura com O Diário de Anne Frank, tendo em vista versar sobre o nazismo e associar as questões vivenciadas na escola com o contexto histórico que marcou a história do século XX.


Em seu processo, Erin aplica elementos da liderança motivacional. Ela engaja os estudantes, permite que eles acreditem em seus projetos, consegue estabelecer uma relação respeitosa e, com isso, domina a sala de forma a transformar o ambiente hostil num espaço de muitas trocas simbólicas que ultrapassam os muros da escola. Filhos se reconciliam com familiares, posturas cidadãs antes tratadas como balela começam a balizar o comportamento de outros, num encaminhamento que dialoga com uma postura romântica de atuação de líder, mas que se revela como algo necessário em nosso contexto. É com a educação afetuosa que Erin consegue descobrir a sua vocação e engajar todos aqueles em seu entorno. Ela é um tipo raro de líder, daqueles que se entregam com totalidade, em algo que exige muitos sacrifícios.


Para nos contar esta história cheia de clichês, mas muito edificante, o cineasta Richard LaGravanese contou com o apoio de uma eficiente equipe técnica. A direção de fotografia de Jim Denault contempla bem os espaços escolares e cria tonalidades interessantes entre os ambientes internos e externos, estabelecendo uma boa coesão visual ao longo da narrativa. O design de produção de Laurence Bennett, responsável pela direção de arte e cenografia, também colabora para a elaboração de um ambiente devidamente conectado com as propostas do roteiro. Ademais, sempre deixo como reflexão a nossa responsabilidade como educadores no mundo: motivar pessoas pode ser um fator motivador para nós mesmos?

 




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