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Foto do escritorLeonardo Campos

Cinema e Matemática: O Homem Que Viu o Infinito


Foto: Reprodução

Dirigido por Matt Brown, cineasta que também escreveu o roteiro, tendo como base o livro biográfico escrito por Robert Kanigel, O Homem Que Viu o Infinito é um daqueles dramas que segue em seu fluxo de complexidades sem tornar a jornada narrativa monótona para os espectadores. Logo em sua abertura, em meio aos créditos, temos uma epígrafe extraída de uma exposição do matemático Bertrand Russel: “a matemática, vista corretamente, possui não apenas verdade, mas profunda beleza”. É assim que o jovem Srinivasa Ramanujan, interpretado por Dev Patel, leva os seus dias, deslumbrados pelas equações, fórmulas e cálculos oriundos de sua mente genial. Indiano que viveu nos primórdios do turbulento século XX, o personagem autodidata sofreu preconceitos constantes e experimentou a amargura de um ambiente acadêmico com estruturas feudais, fechado em si e com as suas “panelinhas” que geralmente enxergavam a chegada de alguém do tipo com muito distanciamento e resistência.


Conhecido por compilar quase 4 mil equações e resolver problemas ditos como impossíveis de resolução, Srinivasa Ramanujan considerava que mesmo diante de sua genialidade com os cálculos, estava fadado a viver na miséria, como Galileu, um dos grandes nomes do campo em questão. Aos 25 anos de idade, o indiano cursa uma faculdade local em sua região, mas observa que naquele espaço, as suas chances de ascensão não são garantidas. Para mudar o cenário, envia uma correspondência para o professor Hardy (Jeremy Irons), acadêmico que se esforça para trazê-lo para o espaço sofisticado da Trinity College, em Cambridge. Neste processo, o jovem deixa a esposa e a família na Índia, seguindo rumo ao seu sonho. Na época, o mundo atravessava uma fase complexa de conflitos internacionais, potencializados pela narrativa nas situações enfrentadas pelo indiano que, ao trazer métodos matemáticos não convencionais, pega de surpresa os acadêmicos tradicionais, incomodados com a sua destreza e inteligência.


Em linhas gerais, O Homem Que Viu O Infinito traz um personagem que podemos chamar de um “estranho no ninho”, alguém que merece muito um posto no tão desejado hall dos matemáticos renomados de sua época, mas que enfrenta a resistência face ao preconceito social, afinal, ele não publicou artigos, não cursou disciplinas formais, tampouco vem de família elitizada, além de representar um tom de pele propício aos absurdos do racismo que ainda na contemporaneidade, é situação de conflitos constantemente exibidos na mídia. Desinteressado em Artes e Literatura, a paixão do jovem matemático lhe permitiu trazer contribuições no âmbito das séries harmônicas, mecânica estatística, teoria dos números, séries infinitas, geometria, além da teoria sobre o infinito, utilizada para entendimento sobre buracos negros e variadas dimensões, um presente de primeira linha para os estudos na fascinante área das pesquisas astronômicas.


Aos 32 anos, Srinivasa Ramanujan morreu de tuberculose, deixando um legado extenso e invejável para o campo das reflexões matemáticas. Sua contribuição para a compreensão dos números primos também ganhou destaque, numa trajetória desenvolvida delicadamente pelos realizadores da narrativa biográfica em questão, matematicamente cuidadosa na exposição dos acontecimentos reais, transformados em ficção, desdobrados ao longo dos 108 minutos deste filme, lançado em 2015. Dentre as cenas mais impactantes, destaco a passagem que o matemático explica para a sua esposa, a relação do infinito com as partículas de areia do caminho que atravessam enquanto dialogam. É de uma beleza grandiosa, algo para deixar qualquer um apaixonado pelas Ciências Humanas de joelhos diante do fascinante mundo das Ciências Exatas, leia-se, a Matemática. Em suma, um belíssimo relato biográfico.


Para nos contar em imagens o que foi desenvolvido no texto dramático de O Homem Que Viu O Infinito, o diretor Matt Brown contou com uma excelente equipe de profissionais do cinema. Em sua direção de fotografia, Larry Smith assina um trabalho que vai além da burocracia, entregando planos, movimentos e enquadramentos envolventes, conectados com as questões expostas ao longo dos diálogos entre os personagens. Éassertivo na captação de imagens que privilegia o design de produção erguido por Luciana Arrighi, meticulosa na supervisão da direção de arte, da cenografia e nos adereços em geral, espaços atravessados por personagens trajados por figurinos igualmente coerentes com a época, bem como suas necessidades dramáticas e perfis e ordem física, social e psicológica. Ademais, podemos também refletir sobre o quão a trilha sonora de Coby Brown, textura percussiva cuidadosamente imersiva, cria uma paisagem sonora ideal para acompanharmos as situações dramáticas vivenciadas pelos personagens.


Propostas para abordagem em sala de aula: vamos nessa?


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